São Francisco de Sales, entre aulas de esgrima, festas na corte e o curso universitário de Direito durante a sua juventude, foi forjado um dos maiores diretores espirituais de leigos da história. Normalmente o apresentam como bispo de Genebra, santo, Doutor da Igreja e patrono da Família espiritual fundada por São João Bosco, são todos títulos verdadeiros e merecidos, mas que podem não dizer muito aos jovens de hoje.
Francisco nasceu no Castelo de Sales, propriedade de seus pais, os senhores de Boisy, donos de terras, castelos e títulos de nobreza, nos idos anos 60 do século XVI, na região da Saboia – entre os alpes franceses, suíços e italianos.
Ser o primeiro filho fez com que pesasse sobre ele muitas expectativas paternas sobre a possibilidade de um futuro brilhante honrando a família. O pai sonhava com um filho importante e reconhecido pela sociedade, não sabia que sua esposa, quando grávida, aproveitando um momento de veneração do Santo Sudário, havia consagrado o filho que carregava no ventre ao Senhor.
A infância do menino foi de muita proximidade afetiva com a mãe e de bastante atenção educativa do pai, que, preocupado com a formação e futura carreira do filho, o mandou estudar numa cidade próxima quando o garoto tinha apenas 6 anos de idade. Mais tarde o menino foi estudar em Paris e, finalmente, estudou Direito na Universidade de Pádua. Esteve sempre nas melhores instituições de ensino da época e sempre conquistou excelente desempenho acadêmico.
Para além dos estudos, a vida do jovem Francisco teve grandes desafios. No final da adolescência, uma grande crise o assolou, temia pelo futuro eterno que lhe estava destinado, tinha medo do que estava por vir, ficou algumas semanas de cama, sem se alimentar direito, pálido e sem querer sair do quarto, pensavam que ele morreria de tão mal que ficou. Venceu o medo ao se colocar aos pés da Virgem e a ela entregar-se confiantemente.
Nos anos de faculdade, teve de enfrentar, várias vezes, as brincadeiras de mau gosto que seus colegas faziam para testar se ele era realmente um bom católico, se ele era corajoso, se ele era virtuoso. Em todas as ocasiões, correspondeu de modo coerente e admirável às tocaias que fizeram para testar a sua moralidade.
Ao voltar para casa um advogado formado, embora quisesse ser padre, teve que passar algum tempo fazendo a vontade de seu pai sem abraçar o estado eclesiástico e cuidando dos interesses familiares.
O santo bispo e doutor da Igreja teve uma juventude com desafios ainda hoje enfrentados por tantos jovens: o medo do futuro, a incompreensão dos colegas quanto a sua opção de fé e a projeção familiar querendo direcionar a sua vida. Passou por tudo isso experimentando aquele que depois foi seu ensinamento deixado especialmente em suas cartas e a na sua obra mais famosa: “Filoteia ou introdução à vida devota”.
Quando finalmente pode ser ordenado padre, logo assumiu a missão da reconquista católica da região do Chablais calvinista. Correu o risco de sofrer violência física, passou por grandes provações, mas a tudo respondeu com mansidão, caridade e abandono à Divina Providência. O resultado de seus quatro anos missionários? De uma região com vinte e cinco mil calvinistas e uma centena de católicos quando ele chegou, trabalhou incansável e criativamente pelas conversões e viu as cifras inverterem: vinte e cinco mil católicos e uma centena de calvinistas ao final de sua jornada missionária. Um de seus feitos missionários lhe rendeu o título de padroeiro dos jornalistas!
Sua familiaridade com a corte e destreza em assuntos jurídicos o colocaram sempre no serviço diplomático da diocese e dos soberanos do Ducado da Saboia. Destacou-se em tudo o que fazia e foi nomeado bispo.
Como bispo continuou sendo incansável: escreveu livros, era catequista, visitou as mais de 400 paróquias de sua diocese pelos Alpes afora, atendia os leigos em confissão e para a direção espiritual, a muitos acompanhou através de cartas, fundou uma Congregação feminina – a Ordem da Visitação de Santa Maria-, cuidou da formação dos seminaristas e promovia, em sua casa, momentos formativos para seu clero, acolheu para morar consigo e evangelizou um surdo-mudo – o que lhe rendeu o título de padroeiro das pessoas com essa condição-, dentre tantas outros feitos que encantaram Dom Bosco por tamanho zelo apostólico. Dessa árvore foi colhida a seiva do “Dai mihi animas caetera tolle” que, vivida por Francisco, foi tomada pelo pai e mestre da juventude como lema de vida.
Fez muito, embora tenha vivido pouco, morreu aos 55 anos de idade.
Dom Bosco não cansava de indicar que seus filhos conhecem a vida, as máximas e a Filoteia escrita pelo patrono para que assim a vivência do espírito de São Francisco de Sales fosse a grande característica percebida em toda a Família Salesiana. A Igreja, através dos Papas, reconheceu inúmeras vezes a grandeza e a importância de São Francisco de Sales e indicou a leitura de suas obras e a força de seu exemplo a todos os fiéis.
– Maria Teresa Cardoso Freire da Rosa